Perdoem-me o desabafo, mas eu não sei
por que diabos as pessoas têm mania de querer apagar o passado e sair
por ai dizendo que quem vive de velharia é museu. É óbvio que ninguém
vai debruçar na janela pra ver a vida passar enquanto chora pelo leite
derramado, mas ignorar tudo o que você viveu para chegar até aqui, além
de tolice, é impossível! O que você é hoje é o resultado de todas as
escolhas que fez no passado e até pra mudar e dar um rumo completamente
diferente em nossa vida é preciso dar aquela checada no retrovisor.
Eu não quero esquecer aquele cara que me
deixou plantada na frente da sua casa e pulou o muro para ir fumar
maconha com os amigos. Foi com ele que aprendi a me amar, me olhar no
espelho, me curtir e dizer “Tu tá muito gata. Eu te pegava hoje”.
Pegava, peguei e continuo pegando, me curtindo, conhecendo cada pedaço
de mim, de quem sou e do meu próprio corpo. Só assim posso esperar que
outra pessoa me ame, me curta, me conheça. Com ele percebi que eu gosto
de me sentir frágil, pequena, cuidada. E que homem tem que cuidar de
mim. E enquanto deu certo, ele cuidou. Eu não quero esquecer aquele cara
que no meio de uma festa foi dar uns pegas na ex-namorada sem o menor
pudor. Com ele eu aprendi que auto-piedade não é atraente e ninguém vai
te amar porque você esta implorando. Como ele eu vi várias madrugadas
transformarem-se em dias lindos enquanto comíamos pastel na feira após a
balada. Com ele eu conheci o Pearl Jam e mostarda. Com ele aprendi que
apesar das declarações de amor, do sexo maravilhoso e das mensagens de
madrugada, nada mais excitante do que ver seu namorando fazendo os
amigos beberem Fanta, porque você odeia Coca.
Eu nunca vou
me esquecer daquele cara que me fez viajar duas horas até seu encontro
só pra depois descobrir que ele tinha namorada. Com ele eu aprendi que
não dá pra ler nas entrelinhas quando um homem escreve. Se ele diz “eu
não estou a fim de compromisso sério” ele só quer uma foda e não importa
quão boa você seja, é só isso que vai ter. Com ele eu conheci Matanza e
cerveja de trigo.
Cada uma das pessoas que passaram pela
minha vida me ensinaram alguma coisa. Talvez o cara lindo que mora do
outro lado do oceano quebre meu coração um dia. Talvez não. Isso eu só
vou saber se me permitir a experiência. E quer saber? Eu permito, eu
acredito.
Se não der certo eu terei aprendido
algo. E se der? Até agora tem valido a pena cada segundo! Tem valido a
pena pelo seu sorriso lindo, pela confusão que faço quando acho que
estou escrevendo em português, mas estou na verdade escrevendo em
inglês, pelo Audioslave, Bob Dylan, Al Pacino, Dexter, Breaking Bad, “as
regras” do UFC que eu jamais vou entender, O Poderoso Chefão, as
mensagens que me acordam de madrugada porque quando o desejo de falar é
muito o fuso horário vira um pequeno detalhe. A saudade. O frio na
barriga. Porque diabos eu ia esquecer tudo isso?
Entendo que com o coração estraçalhado,
quebrado em pedacinhos e muito do orgulho ferido, seja pesado demais
pensar nelas, então eu as manterei guardadas por um tempo. Mas depois de
cicatrizada a ferida, eu serei agradecida por ter vivido tudo isso.
Nunca mais esquecer é exatamente o que eu vou querer!
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